Mãe coragem, filho…
Publicado em 20/10/2006 em TEXTOS.Deprecated: preg_replace(): The /e modifier is deprecated, use preg_replace_callback instead in /home/ricardomedinacom/public_html/wp-includes/functions-formatting.php on line 83
Já tinha ouvido falar de diversos transtornos psicóticos desenvolvidos por filhos desnaturados, geralmente caçulas e temporões, resultando em atrocidades mil contra suas próprias e indefesas mães. Apropriação de aposentadoria, cárcere privado, disco do Roberto Carlos de presente de Natal, espancamento, matricÃdio e por aà vai. Mas acabo de ser surpreendido por um amigo que cometeu o inimaginável: algemou a mãe e foi ao cinema!!!
Isso mesmo: pôs ALGEMAS na coroa, literalmente.
A explicação, ao menos, é aceitável: a corajosa e serelepe senhora tinha feito cirurgia plástica e não podia ficar mexendo os braços. Como não havia jeito dela se comportar - nordestina arretada, já viu -, a solução foi radicalizar.
É versão doméstica do famigerado RDD (Regime Disciplinar Diferenciado), tão em voga nos presÃdios de segurança máxima.
Mas, torturas à parte, confesso que fiquei mesmo curioso com duas coisas muito simples, de certa forma complementares: saber de onde veio essa idéia e por que ele guarda tão particular acessório em casa.
Elaborei algumas teorias.
A primeira, evidentemente, de que ele já se viu nessa situação. Mas, fugiu da cadeia? Levou as algemas de lembrança quando foi solto? Ocorreu-me ainda, que, apesar de jovem, ele tenha sido um desses cangaceiros que espalham terror pelo sertão, de onde veio - até porque, cultiva os mesmos hábitos refinados de Lampião: adora um modelão fashion, só usa perfume francês e domina uma sanfona como ninguém. Além, é claro, de ter sempre uma Maria Bonita por perto (nem que seja pra passar as roupas). Esses cabras… Apesar desses indÃcios, nada faz muito sentido. Até onde sei, o elemento (aparentemente) tem ficha limpa.
Outra hipótese é que as algemas sejam objetos de alguma fantasia. Como ele não é punk nem carnavalesco, talvez se trate de um adereço de… (será?!?). Bom, nesses assuntos referentes a folias de alcova sou ultraconservador - de Sade só conheço a cantora -, e prefiro me abster de emitir comentários a respeito. Só de pensar, enrubesço.
Quanto à função e a origem das algemas, fiquei constrangido de perguntar e continuo aqui amargando essa dúvida corrosiva. Mas o que levou a esse ato desesperado até eu, que de psicanálise entendo patavina, já identifiquei: revolta!
Primeiro, obviamente, o inconfessável: viu vicejarem novamente aqueles peitos que ele, quando bebê, tinha simplesmente esgotado. Pensava que os havia seqüestrado para todo o sempre, eliminando qualquer concorrência, mas… maldito silicone!
Como se não bastasse, a mãe costumava, logo ao raiar do sol, invadir o quarto dos filhos, faxinando tudo e todos que visse pela frente. Apavorado com esse trauma, agora que a situação se inverteu - sendo a casa dele, e ela a hóspede -, foi tomado pela necessidade incontida de mostrar quem manda no pedaço. Ah, crueldade!
Bom, o importante é que ela adorou a idéia e, embora sua hiperatividade teimasse em sabotar o plano, dormia algemada e satisfeita. E ele ia tranqüilo pra balada.
Moral da história, as algemas podem revolucionar os pós-operatórios, para felicidade dos cirurgiões e das pacientes.
E, principalmente, dos filhos desesperados. Afinal, não falta quem tenha razões de sobra para fazer uma releitura dos inesquecÃveis versos do VinÃcius:
“Mães… Mães?
Melhor não tê-las!
Mas se não as temos
Como sabê-lo?”
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